domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aquariofilia em prol do meio ambiente

Qualquer um que seja levado a manter um aquário em casa ou em seu local de trabalho o faz por algumas razões, podem ser pelo simples prazer de apreciar as cores, formato e até pelo exotismo de alguns peixes. Num primeiro momento isto é tudo que um iniciante deseja - olhar para um micro-universo criado por ele próprio de acordo com sua imaginação e experiência.

O que trago aqui é o questionamento de sua atividade perante o meio ambiente e a natureza.

Sabemos que a maioria dos peixes existentes no comércio especializado (excluo aqui outras modalidades de comércio) são provenientes de reprodução em cativeiro, seja pelas mãos de criatórios comerciais ou hobbistas avançados. A quase totalidade destes peixes não pertencem a ictiofauna brasileira, são mais conhecidos no jargão ambiental como "espécies exóticas". Para quem nunca ouviu ou leu algo a respeito darei uma "palhinha" aqui, ok.

"Espécies invasoras ou exóticas": são organismos que não pertencem a fauna ou flora original de um determinado local, país, bioma ou biotopo. Exemplos: pombo doméstico (Europa), pardal (Europa), galinha (Ásia), goiaba (México), tilápia (África), etc. Como podem ver bichinhos tão comuns para nós na verdade são de outros lugares! O problema começa qdo estes organismos (e muitos outros ) encontram um ambiente que reune condições favoráveis para a multiplicação e fixação da espécie em detrimento da fauna e flora originais.

Mas o que são estes fatores que jogam a favor dos invasores?

1º - Oferta de alimento

2º - Ambiente para reprodução

3º - Ausência de predadores naturais

Estes 3 fatores sozinhos já possibilitam o aumento da população em velocidade exponencial na mesma proporção em que diminuem os organismos nativos. Um dado alarmante: as bioinvasões são a segunda razão do desaparecimento de várias espécies vivas só perdendo para a degradação ambiental (poluição e pressão urbana).

Perai....! O que tem a ver aquários e essa coisa de bioinvasão? Vou contextualizar, ok.

Uma pessoa comum dono de um aquário comum, iguais a tantos outros mundo afora. Esta pessoa vê numa loja um belíssimo peixe e resolve levar para casa um punhado deles e feliz da vida solta os novos moradores no aquário. Com o passar do tempo começa a notar que outros peixes começam a morrer ou ter pedaços de seus corpos mutilados, e descobre para o horror dele que são aqueles "belíssimos" peixes que comprou outro dia os culpados pela carnificina. Numa atitude intempestiva e vingativa retira aquelas "pragas" e atira-os na privada como se o problema ali terminasse. O problema na verdade só trocou de lugar: sai de um aquário e vai acontecer nos cursos de água nativos.

Em muitos rios que recebem efluentes domésticos sem tratamento é possível encontrar toda sorte de peixe que um dia foi ornamental. O impacto ambiental provocado por estes pequenos peixes pode ser considerados como alarmantes se pesquisarmos o equilíbrio do ecossistema atingido; reprodução desordenada, diminuição dos estoques naturais de comida, competição pelo espaço, alimento e ar dissolvido, etc....

E ai? Deu pra pegar o fio da meada? No passado estas questões que levanto não eram consideradas lesivas, ou melhor, nem consideradas eram!

A outra face ambiental de nosso hobby é relativo aos peixes capturados em seus ambientes naturais e transformados em ornamento. Muitos destes peixes são capturados dentro de áreas de preservação ambiental ou ambientes protegidos o que configura crime ambiental. O problema é de que forma podemos diferenciar um peixe ilegal de um legal (no sentido jurídico).

Sabemos que algumas espécies são muito especializadas e só existem em condições difíceis de ocorrer em mais de um local - dá-se o nome de "espécie endêmica" para estes organismos. Cito um exemplo clássico: o Leptolebias minimus que é encontrado nas drenagens oeste do rio Guandu(Rj). É nossa obrigação averiguar corretamente se o peixe que iremos levar para casa provem de coleta irregular e caso existam suspeitas, que rejeitemos tal anomalia ético/comercial.

Também levanto aqui o conceito de atividade sustentável que envolve a aquariofilia brasileira. Pq "sustentável"? Um dos conceitos de sustentabilidade é justamente de eleger as atividades humanas que geram fixação do ser humano em seu ramo de atividade conjugado com garantias de obtenção de renda causando baixos impactos ambientais qdo bem planejados e executados (estou sendo econômico na definição,ok) e sob esta ótica a aquicultura ornamental estabelece parâmetros de qualidade oferecendo altíssima variedade de espécies de peixes. Qto as atividades de extrativismo na região amazônica digo que mesmo que ainda hajam muitos peixes oriundos da região amazônica estes são capturados obedecendo uma legislação federal e fiscalizados por um orgão DE governo (não confundir com "órgão DO governo"), e é claro respeitando os períodos em que as espécies estão se reproduzindo, mais conhecido como "período de defeso".

O título da postagem é "aquariofilia EM prol do meio ambiente", logo devemos imaginar como de fato podemos influenciar positivamente pessoas de nosso convívio nas questões ambientais e de que forma podemos contribuir para que o modelo ambiental atual mude privilegiando áreas naturais e a recomposição das já degradadas.

Como fazer isto usando um aquário? Minha experiência com aquários temáticos ensinou-me algo interessante: ninguém respeita o rio Tietê (no trecho urbano) ou o rio Sarapuí (Baixada fluminense) simplesmente pq NUNCA viu um rio com vida!!!! Ai está a validade de um aquário gente!!!! Mostrar que um rio não é simplesmente um curso de água com duas margens, e sim um ambiente onde é possível a existência de vida bela e diversificada; com peixes, crustáceos, insetos, larvas, plantas, etc....

Viram como é fácil mudar uma ótica urbana e antropocêntrica de meio ambiente hídrico? Temos um modelo educacional de potencial gigantesco em nossas casas!!!

Sempre que posso apresento este modelo de educação ambiental para as pessoas - afinal é mais e barato montar um aquário temático pantaneiro que levar as pessoas para o Mato Grosso!!!! Não é mesmo???

E ai, vamos montar um modelo educacional em casa?