sexta-feira, 15 de abril de 2011

À beira da inauguração, aterro de Seropédica ainda é polêmico

Universidade Rural (UFRRJ), vizinha e opositora ao aterro de Seropédica. foto: blog Vestibulando


Por Fabíola Ortiz, em 11.04.11





Considerado pelos defensores o projeto mais moderno de aterro sanitário da América Latina, Seropédica receberá 9 mil toneladas diárias de lixo da cidade do Rio de Janeiro. O começo parcial das operações está previsto para maio. Entretanto, a polêmica em torno da sua implementação continua. Há pelo menos oito anos brigam os governos locais e o estadual, a favor, e grupos de Seropédica, que se opõem à sua construção no município. Antes da inauguração, ainda haverá uma audiência pública para debater o assunto na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

O novo aterro substitui Gramacho, em Duque de Caxias, que, além das péssimas condições, está sendo encerrado após extrapolar a sua capacidade. Seropédica é um mega empreendimento de 400 milhões de reais, que será administrado pela Ciclus, que obteve a concessão pública da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) para explorar o serviço. A Ciclus é uma sociedade entre as empresas Júlio Simões e Haztec.

“As obras estão terminando e quando começar a operação, a ideia é erradicar rapidamente os dois lixões de Seropédica e Itaguaí, muito problemáticos, e começar a receber os resíduos desses municípios junto com os da cidade do Rio”, disse a O ECO a superintendente da Haztec, Adriana Felipetto, à frente do projeto.


De lixo à energia elétrica

A meta é fazer da nova central não apenas um local para despejo de lixo, mas para gerar energia elétrica através de biomassa, queimando o metano emanado pela decomposição do lixo. Essa forma de geração de energia não tem impactos negativos sobre o meio ambiente, garante Felipetto. Em Seropédica, a transformação do gás poderá gerar 30 megawatts de eletricidade, o suficiente para iluminar uma cidade com cerca de 100 mil habitantes. Ela também defende que o novo aterro é seguro e usa a melhor tecnologia disponível. Um aterro sanitário para lixo urbano é normalmente feito com argila e uma camada de manto de polietileno de alta densidade (PEAD) resistente a infiltrações. “Seropédica se destaca porque tem um sistema de drenagem e uma tripla cobertura de impermeabilização. Estamos instalando um aterro para resíduos urbanos com um metro de argila compactada, depois uma camada de manta PEAD, areia, argila de novo, eletrodos e ainda outra manta. Ou seja, zero contato com o solo e, além disso, os sensores estarão ligados a um sistema informatizado online em que qualquer vazamento de chorume será detectado e localizado”, assegurou.

Aterro sobre lençol freático

Entretanto, a instalação de um aterro desse porte em Seropédica preocupa a população do município. Um dos focos de resistência se concentra na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde estudam mais de 12 mil alunos e que estará a uma distância de apenas quatro quilômetros do aterro. Professor da instituição, Cícero Pimenteira, economista e doutor em planejamento energético, acredita que “a administração pública escolheu a pior área para instalar um aterro sanitário”, pois lá também está a reserva estratégica de água para o estado do Rio. “O aterro está sobre o aquífero Piranema”.

Apesar das explicações técnicas e tecnológicas de que o lixo não entrará em contato com o solo, Pimenteira é enfático ao levantar a possibilidade de que, em 5 anos (metade da vida útil do aterro), o manto impermeabilizante possa falhar. Se isso acontecer, “o lixo vai comprometer o lençol freático”. Ele descreve como assustador o cenário do lixão de Gramacho, que já deveria ter sido encerrado há mais de 10 anos. Gramacho tem 45 metros de altura de lixo exposto e mais 15 metros que afundou no mangue sem que o solo fosse protegido. “Em Seropédica, nos primeiros 10 anos, a pilha terá 20 metros de altura. A minha pergunta é: o que fazer depois que os eletrodos detectarem o vazamento de chorume no solo e no aquífero? Os acidentes ocorrem a partir do que os engenheiros não puderam prever”, alerta. O alto índice pluviométrico em Seropédica é outro agravante do aterro. “É como se estivéssemos injetando veneno na água para as gerações futuras que a consumirão”. Além disso, lembra, há outros riscos como a proximidade do porto de Sepetiba e da linha férrea, que podem levar a tentativa de burlar a proibição de importar lixo de outros municípios e estados. Para Ana Cristina dos Santos, presidente do sindicato de docentes da Rural (Adurrj), o impacto sobre a universidade e sobre o município é enorme. “Quase mil caminhões circularão pelas vias, uma delas a Rio-São Paulo, que já é precária”, enfatiza. “Serão nove mil toneladas diárias despejadas em Seropédica, um dos municípios mais pobres e de mais baixo IDH do estado”.


fonte:http://www.oecocidades.com/2011/04/11/a-beira-da-inauguracao-aterro-de-seropedica-ainda-e-polemico/

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